quarta-feira, 1 de junho de 2011

ARTIGO> O CONCEITO DE REVISTA EM QUADRINHOS E LITERATURA: PORQUE PERSISTEM AS DIFERÊNÇAS - 1º PARTE

Recentemente escrevi este artigo sobre quadrinhos para a faculdade. Como a nota foi boa – só 9.6 :p – resolvi compartilhar com vocês, até para saber opiniões diversas. Vou colocar aos poucos os tópicos para a o post não ficar grande demais e nem enfadonho. Leiam e comentem>>>

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O Conceito de Revista em Quadrinhos e Literatura: Porque persistem as diferenças.

Introdução.
1. Muitos nomes, poucos significados

Comics, mangás, gibis, história em quadrinhos ou, simplesmente, HQs. As denominações são muitas para este formato popular de leitura, mas que trazem implicitamente significados restritivos. Comics e mangá denominam a origem cultural, respectivamente revistas americanas e japonesas, de material publicado nacionalmente. Gibi e história em quadrinhos, termos nacionais, ganharam um apelo mais popular e tornaram-se os títulos designativos de qualquer narrativa que tivesse como características a ação dos personagens em esboços, balões de diálogos e direcionados ao público infantil. Infelizmente, essa limitação ideológica no Brasil não colaborou com o desenvolvimento desta peculiar forma de arte, a exemplo de outros cenários, como o europeu e o americano. As barreiras que separam este tipo de literatura com a já difundida culturalmente – do comum formato dos livros – tornam perceptíveis os preconceitos existentes com a 9º arte*, impedindo um foco mais amplo, em âmbito social e escolar, para uma visão literária.

Na última década observamos, felizmente, a aceitação crescente dos quadrinhos nas salas de aula. Pedagogos e educadores chegaram à conclusão que as HQs são um ótimo meio para desenvolver a leitura na infância. Mas, um caminho longo para mudanças de pensamento foi percorrido, como demonstra Vergueiro,

“Essa inegável popularidade, no entanto, talvez tenha sido também responsável por uma espécie de “desconfiança” quanto aos efeitos que elas poderiam provocar em seus leitores. Por representarem um meio de comunicação de vasto consumo e com conteúdo, até os dias de hoje, majoritariamente direcionado às crianças e jovens, as HQs cedo se tornaram objetos de restrição, condenadas por muitos pais e professores no mundo inteiro. De uma maneira geral os adultos tinham dificuldades para acreditar que, por possuírem objetivos essencialmente comerciais, os quadrinhos pudessem contribuir para o aprimoramento cultural e moral de seus jovens leitores.” (2004: 08)

Essa crença, aos poucos vem sendo ultrapassada, promovendo na última década a criação de leias que possibilitaram a entrada dos quadrinhos nas escolas e bibliotecas.

“Mais recentemente, em muitos países, os próprios órgãos oficiais de educação passaram a reconhecer a importância de se inserir as histórias em quadrinhos no currículo escolar, desenvolvendo orientações para isso. É o que aconteceu no Brasil, por exemplo, onde o emprego das histórias em quadrinhos já é reconhecido pela LDB e pelo PCN.” (Vergueiro, 2004: 17)


Se por mimetismo a leis estrangeiras ou por iniciativas próprias para a adoção dessa literatura nas salas de aula, o ato foi positivo. No entanto, é notório que há uma necessidade de preparação dos profissionais da área sobre o universo dos quadrinhos. Notícias diversas pelo país dão exemplos da falta de preparo de professores e pedagogos para trabalharem este material em sala além do limite de objetos alfabetizadores para as séries iniciais.


Dois casos graves reacenderam os debates e demonstraram claramente pontos francos não só referente ao conhecimento sobre HQs, mas também sobre o que esses profissionais da educação tomam por literatura. O primeiro foi o recolhimento das obras O Jogador, Um Contrato com Deus e O Nome do Jogo, do desenhista e escritor Will Eisner das bibliotecas dos estados do Rio Grande do Sul e São Paulo, em 2009, pelas respectivas Secretarias de Educação. Os livros foram considerados inadequados por conter citações, neste caso seria melhor usar o termo imagens, que evocam pedofilia e violência doméstica em suas páginas. O outro fato que chamou a atenção foi o recolhimento da coletânea nacional Dez na Área, Um na Banheira e Nenhum no Gol, de Waldomiro Vergueiro. Considerada de “muito mau gosto” pelo então governador de São Paulo José Serra, os 1.216 exemplares foram recolhidos das escolas municipais a qual foram destinados.

A “demonização” do gênero é gritante. Tanto pela ignorância discursiva quanto pela falta de entendimento coerente e aprofundado sobre o objeto em questão. As justificativas sobre os casos listados acima levam a outras questões: o que estes profissionais consideram por literatura? Como é observado o leitor-aluno nessa perspectiva do que é ou deixa de ser politicamente correto? 

 (continua>>>)