Livro> A Era da Loucura
Autora> Michael Foley
Editora> Alaúde
232 p.
Autora> Michael Foley
Editora> Alaúde
232 p.
Opinião> Seria difícil, neste áureo século XXI, encontrar uma única
pessoa que não esteja à busca daquele sentimento mais profundo, que traz
satisfação e conforto, chamado felicidade. No entanto, com países colocando-a
em sua constituição como um direito do cidadão – e que logo o Brasil deve fazer
parte -, você não precisará procurar mais por essa, até então, abstrata
condição; a Felicidade (isso mesmo, agora com letras maiúsculas), com forma e
espaço a serem preenchidos, é exigível tal qual uma indenização por perdas e
danos. E que seja paga com juros!
É essa transformação de paradigmas e prerrogativas, que o
filósofo irlandês Michael Foley discute no livro “A Era da Loucura – Como o
mundo moderno tornou a felicidade uma meta (quase) impossível”. Não se engane
com o título. Para aqueles que adoram livros de autoajuda, o autor é um crítico
ferrenho a este tipo de literatura, onde há variáveis passos a serem seguidos
para alcançar os mais absurdos objetivos. “A única receita é que não há
receita”, afirma ele.
Os que têm ojeriza à filosofia podem ter uma agradável
surpresa. Com uma narrativa leve e cômica, Foley acaba trazendo graça para o
que seria trágico e, por muitas vezes, colocando suas próprias ações em cheque.
E buscar o entendimento através das suas próprias experiências é o melhor meio,
segundo o autor, de chegar a um equilíbrio racional do querer e o poder.
Em cada capítulo, uma desconstrução. Foley fornece não só a
lógica, mas diversas informações esclarecedoras sobre temas como trabalho, amor
e envelhecimento, que tornam o senso comum um emaranhado ridículo de ideias
manipuladas e manipuladoras. Em uma entrevista à revista Galileu, Foley
desmistifica, por exemplo, a questão da transcendência nas religiões:
“Transcendência é uma perda de si mesmo, uma
imersão de si em uma unidade maior – e a sociedade moderna prefere tomar o
atalho à transcendência por meio de álcool e drogas. Quanto à espiritualidade,
não-crentes não devem permitir que isto seja reivindicado pela religião. Também
pode ser uma espiritualidade ateia: essencialmente, um sentimento de admirar o
milagre da existência consciente na galeria das maravilhas que é o
universo.”
Para o autor, a fuga de responsabilidades está tornando a
sociedade infantil e individualista. Existe uma fuga progressiva das obrigações
e uma busca por riqueza inesgotável, situação inversa pelo qual nossos pais e
avós passaram. “O novo infantilismo tem contribuído para uma sensação cada vez
maior de autovalorização e prerrogativa de direitos, e uma sensação cada vez
menor de autoconhecimento e obrigação.”
E autoconhecimento é uma das palavras chaves do livro. Um
dos principais objetivos do autor é tornar o leitor consciente do que ocorre a
volta. “Se a ignorância é o problema, a solução deve ser o conhecimento.
Portanto, percepção é redenção. Compreensão é salvação”. E para não dizer que
Foley não cedeu nenhuma receita para encontrar ou perceber essa tal felicidade,
ele dá um conselho peculiar: Meditação. “O objetivo da meditação não é a quietude e a indiferença,
mas a consciência, a prontidão, a clareza de propósito.”
Receita simples de ouvir, mas difícil de colocar em prática.
Mas o próprio Foley rebate com maestria a nossa postergação de melhorarmos
nosso ser é o pequeno universo que nos cerca; “tudo o que é excelente é raro e
difícil de alcançar”. É; ninguém disse que seria fácil.
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