segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

FILME> AI QUE VIDA!, 2008


Direção> Cícero Filho
Roteiro>Cícero Filho & Diógenes Macêdo
Elenco> Irisceli Queiroz, Wellington Alencar, Rômulo Augusto
País/Ano de Produção> BRA/2008
Estúdio> TVM Filmes
Distribuidora>TVM Fimes
Estréia no Brasil> 14 de Setembro de 2008
Duração> 100 minutos

Opinião>
Devo confessar que o melhor de escrever esta coluna é a liberdade para a escolha dos temas. Não estar preso às estréias da semana ou aos lançamentos que chegam às locadoras são pontos positivos, não só no quesito de não soar repetitivo e pedante, mas também de estar livre de ver muito material de gosto, no mínimo, tortuoso. É com satisfação que deixo de lado os astros hollywoodianos, os blockbusters e os filmes oscarizados para falar do sucesso cinematográfico chamado “Ai Que Vida!”.

Produção 100% nacional, a comédia “Ai Que Vida!”, roteirizada, dirigida e produzida pelo jovem Cícero Filho, se passa na fictícia Poço Fundo, onde acompanhamos o desenrolar de duas histórias: a primeira, a disputa política entre Zé Leitão (Feliciano Popó), prefeito corrupto que tenta se reeleger, e a dona da funerária local, Cleonice da Cruz Piedade (Antonia Catingueiro), que quer acabar com a corrupção local; a segunda, o dilema amoroso da dançarina de forró Charlene (Irisceli Queirós) que, prestes a se casar com o mauricinho Jerod (Wellington Alencar), se vê apaixonada por Valdir (Rômulo Augusto).

O filme foi lançado em 2008 no cinema Riverside, em Teresina. Na mesma época estava estreando mais um capítulo da franquia Harry Potter. Adivinha qual sala teve todas as sessões lotadas a ponto do dono prorrogar sua exibição? Com a aceitação rápida do público e através de parcerias, o filme percorreu algumas cidades do Maranhão e Piauí, onde quem assistia queria ver de novo, enquanto quem só ouvia falar queria ver de qualquer jeito. E foi esse “de qualquer jeito” que acabou popularizando o filme em todo norte e nordeste com seu lançamento em DVD. Infelizmente, Cícero Filho produziu apenas 300 cópias para o mercado doméstico, ou seja, não demorou muito para “Ai Que Vida!” chegar aos camelôs e sites de downloads. Assim, não é difícil encontrar alguém que possua o filme para repassar para os amigos uma “versão alternativa”. Para Cícero Filho, que gastou cerca de 30 mil reais na produção, isso não é um problema, “meu maior lucro é ver as pessoas comentando que gostaram muito do filme, que se retrataram com o enredo e as personagens!”, declarou o diretor para o site Cabeça de Cuia.

As interpretações dos atores, nem todos profissionais, são um achado. A naturalidade, os trejeitos e os falares - armaria merman, nam! - reforçam todo o contexto da história, nada que lembre as formas caricatas dos nordestinos perpetuados pelas grandes redes de televisão. Um destaque especial para a atriz Sara Castro, que interpreta Mona, a melhor amiga de Charlene e responsável pelos momentos mais hilários do filme. Um ponto que, infelizmente, fica perdido nas cópias piratas são os extras do DVD que trazem toda a dura trajetória dos envolvidos para realizar esse trabalho. Sem contar as entrevistas e os engraçadíssimos erros de gravação.

Uma boa analogia para exemplificar este fenômeno é comparar, nacionalmente, os filmes da Globo Filmes, que não chegam a ser superproduções mas tem uma grande máquina de publicidade à seu favor, enquanto esta pequena pérola nordestina seria o equivalente aos filmes independentes. Não digo isso em relação só em termos de produção, mas sim no seu poder de atrair públicos específicos com uma linguagem mais fiel e criar novos conceitos do que é o cinema nacional e sua representatividade. Hoje nossa produção cinematográfica está indo muito bem, com reconhecimento da crítica e do público. Mas o que é produzido está preso a uma região que insiste em “querer ser” a identidade nacional. Restrito a este eixo, todas as regiões correm o risco da esteriotipação rasa e preconceituosa e também da limitação de cenários e temas. As leis, editais e financiamentos devem ser ofertados em igualdade a todos os profissionais, possibilitando ao nosso cinema mostrar toda a pluralidade do nosso país.

Não precisamos de atores televisivos e imagens do Corcovado para atrair um público. A sétima arte é algo que prima principalmente pela paixão dos envolvidos para atingir seus objetivos e agora é preciso também de democracia. O sucesso do filme “Ai Que Vida!” é um bom exemplo e deve ser tomado como um dos vários passos que o cinema nacional precisa continuar a dar.
(Publicado no Jornal O Girassol dia 27 de maio de 2009)


TRAILER> AI QUE VIDA!

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